24°C 27°C
Salvador, BA
Publicidade

Tragédia em Pojuca beira os 40 anos sem presos após morte de 99 pessoas

Quase 40 anos após incêndio, ninguém foi preso pela morte de 99 pessoas

Ramon Santos (DRT-6448/BA)
Por: Ramon Santos (DRT-6448/BA) Fonte: Metro1
16/02/2023 às 12h02
Tragédia em Pojuca beira os 40 anos sem presos após morte de 99 pessoas
Foto: Divulgação

Reportagem publicada originalmente no Jornal da Metropole em 16 de fevereiro de 2023

Na manhã de 31 de agosto de 1983, uma quarta-feira, o maquinista Deraldo José Nascimento, funcionário da Rede Ferroviária Federal S.A., operava o trem composto pela locomotiva PF 162-161 e 22 vagões-tanque. Carregado de gasolina e diesel, o comboio estava a serviço da Petrobras. Partira da Refinaria Landulpho Alves, em São Francisco do Conde-BA, com destino ao Terminal Riachuelo, em Laranjeiras-SE.

Às 6h50, no km 82 da ferrovia, zona urbana de Pojuca-BA, a composição descarrila. Três dos cincos vagões abarrotados de gasolina tombam. Cada um levava 40 mil litros do combustível, que começa a escorrer para casas às margens da linha férrea.

O acidente muda a rotina da cidadezinha de seis mil habitantes, situada na zona norte da região metropolitana de Salvador, a 75km da capital. Naquele início dos anos 1980, Pojuca era uma espécie de cidade-dormitório. Durante o dia, parte da população saía para trabalhar em municípios vizinhos. 

A notícia sobre o vazamento logo se espalha. Em pouco tempo, crianças e adultos saqueavam a carga. Com baldes, bacias, latas e botijões, carregam gasolina para vender ou estocar em casa. O movimento invade a noite. É mostrado no horário nobre das TVs.

Cenas dantescas

Pouco depois das 20h30, quando o acidente já é notícia em todo o país, de repente, um estrondo se sobrepõe ao alarido da multidão. Um clarão rompe a escuridão da noite. Explode, naquele momento, o barril de pólvora em que Pojuca se transformara ao longo do dia. 

As cenas são dantescas. Uma língua de fogo varre a Rua da Piedade – situada num nível mais baixo que a ferrovia – e leva gente, animais e casas. Tochas humanas correm rua afora. Pessoas são transformadas em carvão. Saldo inicial da tragédia: 36 corpos carbonizados, dezenas de feridos graves, 13 imóveis destruídos. Nos dias seguintes, mais pessoas iriam a óbito, perfazendo um total de 99 mortos.

Inicialmente, os feridos são levados ao Hospital Getúlio Vargas, no Canela, em Salvador. Sem dar conta da demanda, o HGV ganha o apoio de 11 hospitais da capital, no atendimento às vítimas. Em paralelo, o Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, na Avenida Centenário, é palco de um macabro espetáculo: a exposição de corpos carbonizados, para o difícil processo de identificação.

Enquanto esse drama se desenrola, os principais atores trocam farpas. Acusada de omissão pela opinião pública, a Petrobras joga a culpa na RFFSA. Para se defender, a Rede tacha de incompetentes a Prefeitura local e a Polícia Militar. Era um jogo de empurra, uma babel na qual todos falavam e ninguém se entendia.

Após batalhas judiciais, a RFFSA foi condenada na esfera cível a indenizar as famílias atingidas no desastre. Já na instância criminal, não houve punição, apesar de o Ministério Público ter denunciado sete pessoas como responsáveis pelo incêndio. Depois de quase oito anos sem movimentação, a Ação Penal 240/85, instaurada na comarca de Catu-BA, foi arquivada definitivamente em 7 de novembro de 1994.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários