O É Notícias segue aprofundando a apuração sobre o cenário do transporte alternativo que liga Salvador ao Litoral Norte da Bahia, diante de relatos que apontam impactos crescentes sobre a economia local e sobre trabalhadores que encontraram no volante uma alternativa de sustento após o fechamento de postos de trabalho na região.
Desde 2021, centenas de ex-funcionários de setores diversos e terceirizados passaram a atuar como motoristas independentes ou a integrar pequenas cooperativas, buscando alternativa ao desemprego. Nos últimos meses, esses profissionais relatam que a atividade vem sendo dificultada por fiscalizações consideradas, por eles, seletivas e frequentes.
“A gente sai pra rodar sem saber se volta com o carro. É multa, é barreira, é fiscalização o tempo todo. Tem dia que mal consigo colocar o pão na mesa”, contou um motorista que atua de forma independente há anos.
De acordo com esses trabalhadores, a renda mensal chegou a cair até 70% recentemente, já que muitos evitam circular por medo de apreensões ou autuações. Ao mesmo tempo, alguns grupos específicos continuariam operando com maior liberdade, o que, segundo os relatos, alimenta a percepção de tratamento desigual e possível favorecimento em determinados trechos da BA-099 (Estrada do Coco/Linha Verde).
“Tem gente que roda sem ser parado nunca. A gente, quando passa, é batata: encostam o carro, olham documento, acham problema em tudo. E se não der o famoso ‘cafezinho’, o carro não volta pra pista”, afirmou outro motorista ouvido pela reportagem, que pediu anonimato por temer retaliações.
Entre os trabalhadores, tem ganhado força a expressão “Milícia do Asfalto”, usada informalmente para se referir ao que descrevem como um possível sistema de influência e controle sobre o transporte alternativo. Segundo eles, esse grupo teria poder político e acesso a órgãos fiscalizadores, criando restrições seletivas e uma sensação de monopólio velado na região.
“Não é só sobre transporte. É sobre sobrevivência. Parece que estão tentando eliminar qualquer alternativa que não seja a deles”, disse um motorista ouvido pela reportagem.
O transporte alternativo se tornou, para muitos, uma das poucas opções de renda na região. A pressão sobre motoristas independentes, no entanto, tem agravado a insegurança financeira e o desemprego em municípios como Camaçari, Lauro de Freitas, Arembepe, Guarajuba e Praia do Forte. Ex-funcionários relatam que o transporte foi uma “tábua de salvação”, mas que o clima de perseguição e a fiscalização intensa têm desestimulado a atividade e aumentado o endividamento.
“Depois que perdi meu emprego, foi o jeito pegar o carro e tentar a sorte. Agora, nem isso querem deixar a gente fazer. É como se tirassem de novo o nosso emprego”, lamentou outro trabalhador ouvido pelo É Notícias.
Imagens e vídeos enviados à redação mostram veículos de transporte alternativo circulando acima do limite de passageiros — em alguns casos, transportando número maior que o permitido por lei. Apesar disso, motoristas afirmam que há omissão em parte das fiscalizações, reforçando a sensação de desigualdade entre quem tenta trabalhar de forma regular e quem, supostamente, conta com maior flexibilidade no controle.
Casos semelhantes também foram relatados por usuários em plataformas de atendimento ao consumidor, apontando situações de risco e condutas inadequadas de alguns condutores e cobradores.
As denúncias seguem em apuração e serão aprofundadas nas próximas publicações. O É Notícias acompanha o tema há cerca de três anos, reunindo documentos, registros e depoimentos que apontam para possível tratamento desigual entre motoristas e grupos organizados, com reflexos diretos na concorrência, na renda e na mobilidade regional.
O espaço permanece aberto para manifestação da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), do Batalhão de Polícia Rodoviária (BPRv) e de representantes do setor de transporte alternativo que atuam na BA-099.
**O É Notícias mantém o compromisso com a veracidade das informações e com a proteção das fontes, conforme assegurado pela Constituição Federal e pelo Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros. Todas as partes citadas foram procuradas e o espaço segue aberto para novos esclarecimentos.