
O caso de racismo político que abalou Dias D’Ávila ganhou novos contornos e respaldo institucional após uma série de encontros realizados nesta quarta-feira (29), em Salvador. Léo Mineiro, uma das vítimas das ofensas racistas, homofóbicas e misóginas proferidas pelo presidente da Câmara Municipal, José Morais de Almeida Júnior (PSDB), conhecido como Júnior do Requeijão, foi recebido por importantes órgãos estaduais que atuam na defesa dos direitos humanos e na promoção da igualdade racial.
Entre as instituições que se reuniram com Léo Mineiro estão a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e dos Povos e Comunidades Tradicionais (SEPROMI), o Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), a Ouvidoria da Defensoria Pública da Bahia e o Centro de Referência Nelson Mandela. Todas manifestaram solidariedade e apoio integral às vítimas, defendendo que o caso seja tratado com rigor e transparência, inclusive com a possibilidade de afastamento judicial do vereador.
Durante a agenda, Léo Mineiro foi recebido por Aline Santos, coordenadora do Centro de Referência Nelson Mandela, ativista social, mãe e mestra em História, que há anos atua no enfrentamento ao racismo e outras formas de violência. Aline destacou a gravidade do caso e defendeu o fortalecimento da resposta institucional:
“Quando uma autoridade se utiliza do cargo para proferir ofensas racistas, isso ultrapassa o campo pessoal — fere o Estado e os direitos da coletividade. O racismo político precisa ser enfrentado com coragem e punição exemplar”, afirmou.
As entidades estaduais colocaram suas equipes jurídicas e técnicas à disposição para acompanhar o caso, oferecendo suporte às vítimas e cobrando responsabilização. A Defensoria Pública da Bahia confirmou que prestará assistência jurídica e acompanhará o processo, destacando que as declarações do vereador configuram violação de direitos fundamentais e afronta à ética do cargo público.
Segundo juristas ouvidos pelo É Notícias, o cenário político local contribui para a lentidão das medidas internas contra o presidente da Câmara. Um deles, que preferiu não se identificar, foi categórico:
“O mandato dele ainda não caiu porque os colegas provavelmente têm rabo preso. Mas cedo ou mais tarde a Justiça vai agir, e aí não haverá blindagem política que resista.”
O episódio, que teve início com o vazamento de um áudio em que o vereador dirige ofensas racistas e homofóbicas à própria irmã, Maria Marileide de Morais, e a Léo Mineiro, provocou forte repúdio público e segue gerando mobilização política e social em todo o estado.
Para Léo Mineiro, a repercussão estadual mostra que a luta contra o racismo vai além do caso pessoal:
“O que aconteceu em Dias D’Ávila não é apenas um ataque individual, é um ataque à dignidade de todas as pessoas negras. Precisamos transformar esse episódio em um símbolo de resistência e conscientização”, declarou.
Com o apoio crescente de instituições estaduais e o avanço das investigações, o caso se consolida como um dos mais emblemáticos episódios de racismo político na Bahia recente. O cenário é de pressão crescente sobre o presidente da Câmara, que enfrenta risco real de afastamento judicial e de isolamento político — sinais de que a impunidade pode estar com os dias contados.