
O prefeito de Dias D’Ávila, Alberto Pereira Castro, e o presidente da Câmara Municipal, José Morais de Almeida Júnior, conhecido como Júnior do Requeijão, enviaram ao É Notícias exatamente o mesmo texto como resposta aos pedidos de esclarecimento sobre a condenação da Prefeitura por expor servidores a condições desumanas de trabalho.
Os pedidos foram enviados individualmente pela redação, em caráter urgente, com perguntas diretas sobre a sentença da 2ª Vara do Trabalho de Camaçari, que acolheu ação movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e condenou o Município a adotar medidas obrigatórias para garantir condições mínimas de dignidade a trabalhadores da limpeza pública, obras e manutenção urbana.
As duas respostas recebidas pelo É Notícias são idênticas em cada linha e parágrafo, incluindo pontuação e estrutura. O mais curioso, porém, é que ambas chegaram com a indicação de “encaminhado” nas conversas de WhatsApp, o que demonstra que o texto foi repassado por um terceiro — e não redigido diretamente pelos gestores.
A coincidência sugere que uma única fonte ou assessoria produziu a nota e a distribuiu para ambos os gabinetes, indicando coordenação de discurso e ausência de respostas personalizadas por parte das autoridades.
O conteúdo, repetido nas duas mensagens, afirma que “ao assumir a gestão em janeiro de 2021, o Município se encontrava em situação crítica, com sérios problemas estruturais, administrativos e financeiros”, e que desde então “vem adotando medidas técnicas e legais para restabelecer a normalidade administrativa”.
Nenhuma das respostas, no entanto, aborda as perguntas específicas feitas pela reportagem, como o reconhecimento de falhas, o cumprimento da decisão judicial ou o papel fiscalizador da Câmara diante das irregularidades apontadas pela Justiça.
A reprodução literal de um texto “encaminhado” entre autoridades de diferentes Poderes — o Executivo e o Legislativo — gerou estranheza e críticas entre servidores e observadores políticos de Dias D’Ávila. A postura foi vista como sinal de alinhamento político e falta de independência institucional, especialmente em um caso que envolve condenação judicial e violações trabalhistas graves.
Para analistas, o episódio demonstra falta de transparência na comunicação oficial e uso de respostas genéricas para evitar responsabilidade direta. “Quando as autoridades se escondem atrás de notas padronizadas, a população perde a confiança e a imprensa deixa de obter as informações que o cidadão tem direito de saber”, avaliou um analista ouvido pela reportagem.
Na sentença, a juíza Alessandra Barbosa D’Andrade determinou que a Prefeitura instale banheiros e locais de refeição, disponibilize equipamentos de proteção individual (EPIs) e crie abrigos para trabalhadores expostos ao sol e à chuva, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00.
A Justiça reconheceu que as condições de trabalho observadas nos serviços públicos municipais eram “incompatíveis com a dignidade humana”, responsabilizando diretamente o Município e seus gestores.
Mesmo diante da gravidade dos fatos e da repercussão da decisão, nenhum dos dois gestores ofereceu resposta própria, concreta ou assinada. As mensagens “encaminhadas” evidenciam a ausência de posicionamento individual e fragilizam a credibilidade das instituições em um momento que exige prestação de contas e responsabilidade pública.
“Ao assumir a gestão municipal em janeiro de 2021, o prefeito Alberto Castro constatou que o Município de Dias d’Ávila se encontrava em situação crítica, com sérios problemas estruturais, administrativos e financeiros, decorrentes de anos de ausência de planejamento e manutenção adequada dos serviços públicos.
Desde então, a administração municipal vem adotando medidas técnicas e legais para restabelecer a normalidade administrativa, modernizar a máquina pública e recuperar a infraestrutura urbana e social. Cada ação tem sido executada dentro dos princípios constitucionais da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, com transparência e rigor no cumprimento da legislação vigente.
O governo municipal reafirma o compromisso com a gestão responsável dos recursos públicos, com a efetividade das políticas públicas e com a valorização do cidadão como destinatário final de todas as ações administrativas.”