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Paciente com perna imobilizada com papelão precisa ser regulado por falta de ortopedista na unidade

Festa de São João custa milhões enquanto saúde enfrenta crise de infraestrutura

18/06/2024 às 20h30 Atualizada em 18/06/2024 às 22h23
Por: Redação Fonte: A Tarde
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Foto: Reprodução/Redes Sociais
Foto: Reprodução/Redes Sociais

Mata de São João, localizada na Região Metropolitana de Salvador, está investindo pesado para celebrar a festa de São João, promovendo um evento de três dias, de 21 a 23 de junho, com atrações renomadas e um custo total de cachês superior a R$ 2 milhões. No entanto, enquanto a cidade se prepara para o grande evento, problemas críticos na saúde pública local vêm à tona, gerando questionamentos sobre as prioridades do governo municipal.

Entre os artistas contratados estão Adelmário Coelho (R$ 200 mil), Alcymar Monteiro (R$ 250 mil), Tarcísio do Acordeon (R$ 350 mil) e Simone Mendes (R$ 650 mil). Além disso, a prefeitura está investindo R$ 89 mil no aluguel de um "varal de luzes", R$ 23 mil em mangueiras de LED e quase R$ 9 mil em uma fogueira cenográfica. Este dispêndio é alvo de críticas por parte da população, que aponta a carência de recursos em setores essenciais, como a saúde.

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Na última terça-feira, um idoso com suspeita de fratura foi atendido no hospital municipal Eurico Goulart de Freitas, onde teve sua perna imobilizada com uma tala improvisada de papelão, devido à falta de um gesseiro na unidade. O paciente foi posteriormente transferido, após conseguir uma vaga na regulação, mas o incidente gerou indignação entre os familiares e a comunidade.

A Secretária de Saúde, Tatiane Rebouças, também está no centro das críticas após demitir os condutores do SAMU sem publicar um novo edital para selecionar os substitutos, agravando ainda mais a situação da saúde no município.

Moradores de Mata de São João também relataram dificuldades em receber atendimento ortopédico adequado no hospital municipal. Em entrevistas ao jornalista Ramon Santos, do É Notícias, eles compartilharam suas frustrações.

"Meu filho quebrou o braço jogando bola e tivemos que ir para Salvador porque aqui não tinha ortopedista. É revoltante ver tanto dinheiro sendo gasto com festas enquanto falta o básico na saúde," disse Maria Silva, moradora do bairro do Parque São João.

João Souza, outro residente, comentou: "Sofri uma queda e precisei de atendimento. Me mandaram para a Policlínica, mas lá também não tinha ortopedista disponível naquele dia. A festa pode ser importante, mas a saúde tem que vir primeiro."

Além disso, Ana Paula, uma moradora que fraturou o pé, relatou que foi ao hospital municipal, mas não havia ortopedista para atendê-la. "A única opção que me deram foi colocar na regulação para uma cirurgia. No entanto, ao procurar um hospital particular, constatei que não era caso de cirurgia, bastava um tratamento simples. Isso mostra o quanto a falta de estrutura nos hospitais sobrecarrega a regulação desnecessariamente."

O caso veio à tona através do Portal A Tarde. Em nota enviada à redação, a prefeitura informou que o paciente foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) na madrugada do dia 10 de junho, após sofrer uma queda e fraturar a tíbia. Segundo a gestão, o paciente, que apresentava histórico de alcoolemia e comportamento inquieto, foi imobilizado pela equipe do SAMU ainda no local antes de ser encaminhado ao Hospital Municipal, onde foi inserido na fila zero da regulação para uma unidade de referência em traumatologia.

A prefeitura destacou que procedimentos com uso de gesso são realizados na Policlínica Municipal sob supervisão de um ortopedista, indicando que o hospital municipal não possui estrutura adequada ou profissionais para tal procedimento, o que agrava a crítica situação da saúde local.

Se os hospitais municipais tivessem o mínimo de estrutura, muitos casos poderiam ser resolvidos localmente, sem sobrecarregar o sistema de regulação, afirmou o jornalista Ramon Santos.

A festa, que deveria ser um momento de celebração, levantou um importante debate sobre a gestão dos recursos públicos e as prioridades da administração do prefeito Bira da Barraca (União Brasil), que assumiu o cargo após a renúncia do ex-prefeito João Gualberto (PSDB). A população se questiona se o investimento elevado em festividades é justificável diante das carências na saúde e em outros serviços essenciais.

Esta situação em Mata de São João é um reflexo das dificuldades enfrentadas por muitos municípios brasileiros, onde a gestão dos recursos públicos frequentemente entra em choque com as necessidades básicas da população, colocando em evidência a importância de um planejamento mais equilibrado e responsável.

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