Flora tem 9 anos e é uma criança com uma enorme energia e alegria, mas há algo em sua história que a torna ainda mais especial. Conhecida por ser tagarela fora da escola, ela prefere a calma e o silêncio no ambiente escolar, onde se dedica com afinco às matérias que adora, como Matemática, Português e Inglês. “Na escola, eu fico quietinha, porque gosto muito de Matemática e acho fácil”, explica a menina, com um sorriso doce. Fora da sala de aula, no entanto, ela é uma verdadeira contadora de histórias, que adora compartilhar suas aventuras, suas viagens ao Nordeste e suas paixões por gibis da Turma da Mônica, filmes e desenhos.
Por trás dessa alegria e energia, Flora carrega uma história de superação. Ela está em tratamento contra um astrocitoma pilocítico, um tumor cerebral que foi diagnosticado quando ela ainda era muito pequena. "Dodói", como seus pais, os músicos Cris Pereira e Guto Martins, explicam carinhosamente, Flora luta contra essa doença desde os primeiros sinais aos 6 meses de vida.
Aos 6 meses, Flora apresentou um pequeno estrabismo no olho esquerdo, um sintoma que, à primeira vista, parecia ser simples. Mas, ao longo do tempo, outros sinais começaram a surgir, até que, em 2016, a família recebeu a notícia que ninguém gostaria de ouvir. O diagnóstico foi um choque: Flora tinha um tumor de 6 centímetros na cabeça. Em apenas três dias, ela passou por uma cirurgia de emergência. O momento foi decisivo para a família, que viu a vida tomar um rumo totalmente diferente. "Foi como se a gente tivesse passado por um portal e que nunca nada seria como antes", recorda Cris.
A jornada de Flora é longa e, até hoje, segue uma rotina intensa de tratamentos, incluindo quimioterapia e terapias-alvo, que são realizadas com um custo elevado. Atualmente, Flora está em um tratamento que utiliza medicamentos caros, sendo que duas caixas de remédios por mês custam cerca de R$ 6 mil. Graças a uma decisão judicial, a família tem o suporte de um plano de saúde que cobre os custos desses tratamentos essenciais.
Cris e Guto sabem o quanto a visibilidade sobre o câncer infantil é importante e por isso, desde o início do tratamento, decidiram compartilhar a experiência da filha nas redes sociais. Criaram a página @mamaetocomcancer no Instagram, onde dividem com outras famílias os altos e baixos dessa jornada, oferecendo apoio, relatos de pequenas vitórias e compartilhando os desafios enfrentados. “É fundamental falar sobre o câncer infantil, não pode haver tabu. A informação pode salvar vidas”, diz Cris.
O neurocirurgião pediátrico Márcio Marcelino, do Hospital da Criança de Brasília, destaca a importância do diagnóstico precoce para o câncer infantil, pois ele pode fazer toda a diferença no tratamento. “Quando o tumor é detectado nas fases iniciais, ele pode ser operado de forma mais eficaz, com menos complicações e menor disseminação da doença”, explica. No caso de Flora, os avanços da medicina têm sido fundamentais, e o tratamento vem apresentando progressos significativos.
A luta de Flora e sua família tem sido de resistência e perseverança. Para Cris, cada momento de vida é uma oportunidade de ser intensa e aproveitar as pequenas vitórias do dia a dia. E, mesmo com a dor e os desafios do tratamento, Flora ensina a todos ao seu redor que a alegria e o sorriso são essenciais na luta pela vida. "Resistência em mim se acendeu", afirma a mãe, que se inspira na força de sua filha para seguir em frente.
A história de Flora é um exemplo de coragem e amor, e, como ela mesma diz, "não pode deixar de tagarelar, sorrir e lutar a cada dia".