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Impactos Ambientais por excesso de Iluminação em regiões litorâneas: Uma Ameaça às Tartarugas no Litoral Norte da Bahia
Excesso de luz nas praias brasileiras: um desafio para equilibrar cultura festiva e preservação ambiental
25/11/2024 19h48
Por: Ramon Santos (DRT-6448/BA)
Foto: Divulgação

A iluminação excessiva nas orlas e praias brasileiras tem sido objeto de preocupação crescente devido aos seus impactos negativos sobre a fauna, a flora e a saúde humana. Especialistas em arquitetura, meio ambiente e sustentabilidade costeira discutiram recentemente a necessidade de repensar o modelo cultural brasileiro que associa maior luminosidade a benefícios, enfatizando a urgência de revisar essa abordagem. Essa tônica fica ainda mais em foco quando se aproximam as festas de fim de ano onde grandes redes hoteleiras, de turismos e até prefeituras adotam o incremento de iluminação artificial para valorização do clima natalino, mas por outro lado podem estar colocando em risco a fauna e a flora de uma localidade.

Durante o workshop "Fotopoluição e Impactos às Tartarugas Marinhas", promovido pelo Centro TAMAR/ICMBio e parceiros na Faculdade de Arquitetura da UFBA, em Salvador, representantes de órgãos ambientais, prefeituras litorâneas e instituições acadêmicas debateram como desenvolver projetos urbanísticos que considerem a preservação de espécies como tartarugas e aves marinhas, além da vegetação nativa de restinga.

O presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo da Bahia (CAU), Thiago Brasileiro, destacou a importância de repensar a iluminação urbana das cidades costeiras, considerando a relação entre natureza, ser humano e arquitetura. Joca Thomé, coordenador do Centro TAMAR/ICMBio, ressaltou a relevância da colaboração entre diferentes esferas governamentais e a sociedade para promover o desenvolvimento sustentável que respeite a geobiodiversidade.

O biólogo Paulo Lara, da Fundação Projeto TAMAR, apresentou os efeitos da luz artificial sobre as tartarugas marinhas, citando estudos científicos que discutem soluções para mitigar a poluição luminosa. Ele explicou que o ciclo natural de dia e noite é fundamental para a evolução da vida na Terra e que a luz artificial pode atrair ou repelir animais e plantas, causando impactos significativos na biodiversidade.

No contexto do Litoral Norte da Bahia, onde municípios como Mata de São João, Entre Rios e Camaçari estão localizados, a iluminação artificial excessiva representa uma ameaça particular às tartarugas marinhas. A Bahia abriga 70% das desovas da espécie cabeçuda (Caretta caretta) e 20% da tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata) no país. A iluminação inadequada pode desorientar filhotes, levando-os a se afastarem do mar e aumentando o risco de mortalidade.

Com a aproximação das festividades de fim de ano, é comum a instalação de decorações natalinas iluminadas nas áreas próximas às praias. Embora essas iluminações contribuam para o clima festivo, é crucial que sejam planejadas de forma a minimizar os impactos ambientais. Especialistas recomendam o uso de luminárias projetadas para evitar a incidência direta de luz sobre as praias, além da adoção de cores e intensidades luminosas que não interfiram nos ciclos naturais dos animais.

A conscientização da população e a implementação de políticas públicas que regulamentem a iluminação em áreas costeiras são passos essenciais para equilibrar as tradições culturais com a preservação ambiental. Ao adotar práticas de iluminação responsáveis, é possível celebrar as festividades de fim de ano sem comprometer a biodiversidade e a saúde dos ecossistemas litorâneos. Cidades litorâneas, tais como Mata de São João, Camaçari e Entre Rios, no litoral norte da Bahia, precisam se dedicar ainda mais a esse tema.