Nesta terça-feira (04), foi confirmada a morte cerebral de Aurici de Oliveira Soares, de 57 anos, ex-servidor público de Mata de São João, Bahia. Aurici, que segundo informações de amigos e familiares, dedicou 23 anos de sua vida ao serviço público municipal, faleceu em decorrência de um acidente vascular cerebral (AVC), dias após ser encontrado desacordado em sua residência. Segundo fontes, a família tomou a nobre decisão de doar seus órgãos, gesto que poderá salvar a vida de outras pessoas.
Aurici era conhecido em Mata de São João por sua versatilidade e dedicação. Segundo relatos de amigos, durante sua longa trajetória na prefeitura de Mata de São João, ele desempenhou múltiplas funções, tais como: trabalhou no antigo Centro de Abastecimento, na feira municipal, no cemitério durante a pandemia, no Parque Municipal como guarda e, mais recentemente, no programa SINE Bahia, onde realizava serviços gerais e fiscalizava o transporte público do programa Tarifa Zero.
Exoneração e fragilidade emocional
Apesar de décadas de serviços prestados à comunidade, informações dão conta de que Aurici havia sido desligado do serviço público municipal recentemente e de forma inesperada por ele, o que abalou profundamente sua saúde emocional. Amigos relatam que ele comentava estar faltando menos de dois anos para a sua aposentadoria e que mesmo enfrentando dificuldades, ele estaria em busca de novas oportunidades de trabalho quando sofreu o AVC que o levou à morte cerebral. O ex-servidor ainda cuidava de sua mãe de 94 anos, diagnosticada com Alzheimer, em uma dinâmica de vida já repleta de desafios.
Sua morte causou comoção entre amigos e familiares, que lembram de Aurici com carinho e gratidão por sua dedicação à cidade. O velório está sendo organizado para ocorrer na cidade, permitindo que amigos e conhecidos prestem suas últimas homenagens.
Reflexão sobre a precariedade no vínculo trabalhista
O caso de Aurici evidencia um problema crônico em diversas administrações públicas brasileiras: a contratação de servidores sem concurso público em regimes temporários, mas com renovação sistemática de contratos. Apesar de atuar por mais de duas décadas em funções permanentes, Aurici não possuía os direitos e a estabilidade garantidos aos servidores concursados. Essa prática, embora comum, fere os princípios constitucionais e expõe trabalhadores a um ciclo de insegurança jurídica e social, principalmente se ficar confirmado que ele poderia estar às vésperas de sua aposentadoria.
Especialistas apontam que situações como a de Aurici não são incomuns. “O vínculo temporário fragiliza o trabalhador, que não tem direito a aposentadoria especial, FGTS ou estabilidade, mesmo dedicando anos de sua vida ao serviço público. Quando o contrato é rompido, ele se encontra sem qualquer amparo legal, o que pode levar a consequências graves, como a desestabilização emocional e social”, explica a jurista Clara Andrade.
Impactos sociais e emocionais
Além das implicações trabalhistas, a exclusão abrupta de servidores não efetivados traz um impacto significativo à saúde mental. Para aqueles que dedicam anos ao serviço público, o desligamento representa não apenas a perda de sustento, mas também de propósito e pertencimento. No caso de Aurici, a exoneração se somou ao desafio de cuidar sozinho de sua mãe idosa, criando um cenário de vulnerabilidade extrema.
“A perda de um emprego que era a principal fonte de sustento e identidade social pode desencadear transtornos como depressão, ansiedade e até contribuir para problemas de saúde física, como no caso do AVC”, aponta o psicólogo social Marcos Tavares.
O legado de Aurici e o alerta para mudanças
Aurici deixa um legado de dedicação à comunidade de Mata de São João, mas sua morte também serve como um alerta sobre a necessidade urgente de mudanças no modelo de gestão pública. Contratos temporários devem ser utilizados de forma excepcional, e não como substitutos permanentes para o concurso público. Além disso, é preciso criar mecanismos de transição e proteção para trabalhadores que, como Aurici, dedicam grande parte de suas vidas ao serviço público.
O caso de Aurici não deve ser esquecido. Ele é um exemplo de como a falta de políticas públicas eficazes pode levar à vulnerabilidade de trabalhadores que sustentam o funcionamento das administrações municipais. É hora de refletir e agir para evitar que situações como essa se repitam em Mata de São João e em outras cidades brasileiras.