Na quarta-feira, dia 17 de setembro, nossos ilustres vereadores da base aliada do prefeito Bruno Reis, aqueles mesmos que levantam a mão mais rápido que controle remoto de TV velha, estão prestes a aprovar um pacote que deveria vir com aviso de perigo biológico, mexer no PDDU e na LOUOS para abrir caminho ao desmatamento do Parque do Vale Encantado, um dos últimos refúgios da Mata Atlântica de Salvador.
O prefeito que não assina nada, mas manda desmatar tudo
O que mais impressiona é o teatro. Desde 2020, com estudos, audiências, consulta pública e até aprovação das secretarias municipais, já estava tudo pronto para transformar o Parque do Vale Encantado em Refúgio de Vida Silvestre. Bastava uma coisa: a caneta do prefeito. Mas Bruno Reis tem fobia de assinar decreto de proteção ambiental. Para liberar prédio em área de risco, assina até de olhos fechados. Agora, para proteger floresta, a caneta fica mais emperrada que caneta Bic com a tinta chegando ao final.
A base aliada, linha de produção de votos
Os vereadores aliados fazem fila, disciplinados como gado indo para o curral, prontos para aprovar o PL 175/2024. A pressa é tanta que parece Black Friday da especulação imobiliária. O Ministério Público já disse que o projeto é irregular, que não tem estudo técnico, que atropela o Conselho da Cidade. Mas quem disse que isso importa? Afinal, a lógica da Câmara é simples: se o prefeito manda, eles obedecem.
O que está em jogo
O Parque do Vale Encantado abriga nascentes, rios, lagoas e espécies ameaçadas. É floresta ombrófila densa, que refresca o calor da cidade, evita enchentes e mantém o aquífero de Salvador vivo. Mas, para a prefeitura, tudo isso vale menos que a promessa de “via estruturante” e o tilintar da especulação imobiliária.
Traduzindo: trocam ar fresco por ar-condicionado caro, sombra de mata por sombra de prédio, água de nascente por enchente de esgoto.
A boiada passa no asfalto
Enquanto o Ministro Ricardo Salles dizia que era hora de “passar a boiada” lá em Brasília, aqui em Salvador Bruno Reis resolveu inovar: vai passar a boiada no asfalto, dentro do Parque Vale Encantado, com direito à duplicação de vias. É o “progresso encantado”: desmatar hoje para alagar amanhã.
O desfecho
Se a Câmara aprovar esse monstrengo jurídico, o que estará assinado é a certidão de óbito da inteligência urbana. A cidade que já é a segunda pior do Brasil em arborização (IBGE que o diga) vai perder o pouco que lhe resta de floresta.
E, claro, depois a prefeitura ainda vai gastar milhões com propaganda dizendo que plantou “milhares de árvores”, cada uma custando 15 mil reais, mas sem raiz, sem copa e sem vergonha.
O PL 175/2024 é a prova viva de que, em Salvador, quando o meio ambiente entra em pauta, a política trata como mercadoria. Bruno Reis e seus vereadores da base não estão escrevendo um plano de cidade. Estão redigindo um obituário do Parque do Vale Encantado, e assinando embaixo com caneta de serragem.
Porque aqui, minha gente, o encantado é só o nome. O que resta é desencanto, desmatamento e um prefeito que acha que sustentabilidade é plantar concreto e colher voto.