Prometer corredor verde é fácil, difícil mesmo é plantar árvore. E nisso, o prefeito Bruno Reis já se consagrou como mestre: um jardineiro de PowerPoint. Em 2024, ele apresentou ao público um projeto ambicioso: transformar Salvador numa cidade mais fresca, arborizada, com áreas interligadas por corredores verdes que atravessariam bairros e devolveriam à população um pouco do verde que a especulação imobiliária devorou. Bonito no discurso, inspirador no render 3D… e absolutamente inexistente na vida real.
Iniciando seu segundo mandato, a floresta prometida continua sendo uma miragem, e o que vemos no lugar dela é um desmatamento oficializado a cada leilão de áreas verdes da cidade. Enquanto o corredor verde não sai do papel, o que sai são editais milionários vendendo mais de 30 áreas verdes, como se fossem terrenos ociosos sem função ecológica. É a matemática perversa da política urbana: tira-se o verde para vender progresso, mas a conta é paga pela população com ilhas de calor, enchentes e um ar cada vez mais pesado.
E não é como se Salvador pudesse abrir mão dessas áreas. Estamos falando de uma cidade que o IBGE já classificou como a segunda pior capital do Brasil em arborização. É o tipo de dado que deveria causar vergonha e mobilizar uma força-tarefa imediata, mas aqui, o verde é só cor de logomarca em projeto institucional.
Os corredores verdes de Bruno Reis, pelo andar da carruagem, estão mais para corredores de vento, aqueles que se formam entre os prédios altos que sombreiam a praia, fruto da mesma lógica de licenciamento frouxo que ignora a função ambiental das áreas livres. Talvez, no ritmo que vai, quando a promessa for cumprida, já tenhamos corredores, sim… mas de concreto, ligando de ponta a ponta as torres e empreendimentos aprovados pela gestão.
Se Salvador quer de fato enfrentar o calor e as enchentes, não adianta ficar correndo atrás do verde apenas em entrevistas e coletivas. É preciso plantar, cuidar e preservar.
Porque, do jeito que está, o único maratonista nessa história é o prefeito… fugindo da execução do próprio projeto.
Enquanto isso, o cidadão que quer sombra e frescor tem que se virar: plantar um pé de manga na calçada, regar, proteger do vandalismo… e torcer para que não vire alvo de alguma obra estratégica da prefeitura. Salvador precisa de corredor verde de verdade, não de promessa decorativa para palanque. Porque no final, até o cinza precisa de contraste, e aqui, até isso estão vendendo.
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