Uma equipe de pesquisadores encontrou um fragmento perdido de uma antiga tradução siríaca dos Evangelhos, datada do século VI, utilizando fotografias com luz ultravioleta. O método revelou textos apagados em manuscritos que haviam sido reutilizados por escribas medievais — uma prática comum na época, devido ao alto custo do material de escrita.
O manuscrito analisado é um palimpsesto — pergaminho que foi raspado para receber um novo texto. No entanto, traços da tinta original permaneceram e, sob luz ultravioleta, tornaram-se visíveis devido à forma como os resíduos absorvem e refletem a luz, destacando-se em tons azulados.
Segundo Grigory Kessel, um dos pesquisadores envolvidos no estudo, a passagem recuperada pertence ao capítulo 12 do Evangelho de Mateus, em uma versão siríaca até então conhecida por apenas dois outros manuscritos — um guardado na Biblioteca Britânica e outro no Mosteiro de Santa Catarina, no Egito. A nova descoberta foi encaminhada à Biblioteca do Vaticano para conservação e estudo.
O trecho recuperado contém narrativas importantes da vida pública de Jesus, incluindo:
A controvérsia sobre os discípulos colhendo espigas no sábado, quando Jesus defende que "a misericórdia é mais importante que o sacrifício" (Mateus 12:7).
Milagres realizados por Jesus no sábado, desafiando as interpretações rígidas dos fariseus.
A expulsão de demônios como sinal do Reino de Deus: "Se eu expulso os demônios pelo Espírito de Deus, então o reino de Deus chegou a vós" (Mateus 12:28).
A profecia da ressurreição, comparando-a ao "sinal de Jonas", que passou três dias no ventre da baleia (Mateus 12:40)
A técnica de luz ultravioleta tem sido fundamental para recuperar textos antigos considerados perdidos. Neste caso, a descoberta amplia o conhecimento sobre as traduções siríacas da Bíblia, que são essenciais para entender a disseminação do cristianismo no Oriente.
"Cada novo manuscrito descoberto nos ajuda a reconstruir a história dos textos bíblicos e sua transmissão ao longo dos séculos", afirmou Kessel.
A pesquisa reforça como a tecnologia moderna está revolucionando o estudo de documentos históricos, revelando segredos que permaneciam ocultos por mais de um milênio.