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Reportagem Especial: Um paralelo entre a “Noite das Facas Longas” na Alemanha Nazista (1934) e o Caso “Punhal Verde e Amarelo” no Brasil (2022)

Como episódios históricos de purgas políticas, separados por quase 90 anos, refletem estratégias de consolidação de poder e eliminação de opositores, com paralelos entre regimes autoritários e democracias em crise.

Por: Emerson Nery
23/11/2024 às 18h25 Atualizada em 24/11/2024 às 21h47
Reportagem Especial: Um paralelo entre a “Noite das Facas Longas” na Alemanha Nazista (1934) e o Caso “Punhal Verde e Amarelo” no Brasil (2022)
Foto: Reprodução

Os episódios históricos e políticos envolvendo purgas internas em regimes ou governos têm como características comuns a consolidação de poder e a eliminação de opositores. Dois exemplos que evocam comparações, embora ocorridos em contextos distintos e com intenções específicas, são a “Noite das Facas Longas”, ocorrida na Alemanha nazista em 1934, e as recentes denúncias no Brasil sobre um suposto projeto “Punhal Verde e Amarelo", revelado pela Polícia Federal em 2024. Apesar das diferenças entre as realidades políticas e sociais, ambos os eventos geram reflexões sobre o uso do aparato estatal e estratégias de neutralização de ameaças percebidas.

O Caso Alemão: A Noite das Facas Longas

Em 30 de junho de 1934, Adolf Hitler ordenou uma série de assassinatos dirigidos contra membros da liderança da SA (Sturmabteilung), as tropas de assalto que haviam desempenhado papel central na ascensão do Partido Nazista ao poder. A operação, conhecida como "Noite das Facas Longas", teve como principal alvo Ernst Röhm, chefe da SA, acusado de conspirar contra Hitler e de buscar maior controle dentro do regime nazista. Além dele, opositores políticos e desafetos pessoais também foram eliminados.

O evento marcou uma transição decisiva para o regime nazista: Hitler consolidou seu poder ao ganhar a confiança do exército regular, que via a SA como uma ameaça, e eliminou qualquer resistência interna ao seu governo. Para justificar os assassinatos, o regime alegou que havia desarticulado um complô contra o Führer. Posteriormente, o episódio foi legalizado pelo governo alemão, consolidando o uso de violência como ferramenta política.

O Caso Brasileiro: O Projeto “Punhal Verde e Amarelo"

No Brasil, em 2022, a Polícia Federal revelou a existência de um suposto plano denominado projeto “Punhal Verde e Amarelo", que teria como objetivo neutralizar opositores políticos de forma sistemática. Segundo as investigações, o plano envolveria ações orquestradas por aliados do governo federal à época, incluindo tentativas de infiltração e desestabilização de instituições democráticas, com foco em jornalistas, ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e adversários políticos.

Embora o plano tenha sido denunciado como uma conspiração, não há evidências de que tenha sido executado. Ainda assim, a denúncia gerou grande repercussão no Brasil, com debates sobre a utilização de instrumentos estatais para perseguição política. Grupos de defesa da democracia expressaram preocupação com os paralelos históricos de regimes autoritários, enquanto defensores do governo à época alegaram que as acusações fazem parte de uma campanha de descrédito contra seus aliados.

Comparações e Contrastes

Apesar de contextos históricos muito diferentes, os dois episódios refletem práticas de manipulação política para a consolidação de poder:

1. Contexto Político e Justificativas:

A Noite das Facas Longas ocorreu no início de uma ditadura consolidada, sendo uma ação que definiu a hegemonia de Hitler no regime nazista;

O "Punhal Verde e Amarelo" se deu em um ambiente democrático, ainda que polarizado, com a denúncia sendo levantada em meio a investigações de supostas tentativas de desestabilização institucional.

2. Objetivos:

Em 1934, o objetivo foi eliminar rivais internos e fortalecer alianças estratégicas, como a do exército regular;

No Brasil, o projeto alegadamente buscava minar opositores e críticos, utilizando estratégias contemporâneas como campanhas de desinformação e pressão judicial, com possíveis atentados contra a vida de personagens importantes no contexto político e judiciário do Brasil.

3. Métodos e Resultados:

A Noite das Facas Longas envolveu assassinatos e violência explícita, com repercussões imediatas e palpáveis;

O "Punhal Verde e Amarelo", segundo as investigações, teria operado principalmente no campo da conspiração, sem registros de violência física ou concretização de ações propostas.

4. Repercussões e Memória Histórica:

O episódio alemão é amplamente reconhecido como um marco de repressão e autoritarismo, configurando o uso sistemático da violência como política de estado;

No Brasil, a denúncia alimenta o debate sobre os limites do uso do poder em contextos democráticos e o papel das instituições em impedir desvios autoritários.

Considerações finais

Embora sejam separados por décadas e contextos históricos, ambos os eventos servem como lembretes do perigo do uso de mecanismos estatais para perseguições políticas e eliminação de rivais. “A Noite das Facas Longas” representa um exemplo extremo de como a violência política pode cimentar regimes autoritários, enquanto o "Punhal Verde e Amarelo" traz à tona a discussão sobre a fragilidade das instituições democráticas frente a ameaças modernas. Analisar e compreender essas práticas é essencial para evitar que se repitam em quaisquer contextos.

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