Em entrevista exclusiva ao É Notícias, o líder comunitário Léo Mineiro quebrou o silêncio e se manifestou pela primeira vez após a divulgação do áudio em que o presidente da Câmara de Dias D’Ávila, Júnior do Requeijão, profere uma série de ofensas racistas, homofóbicas e misóginas contra ele e a própria irmã, Marileide.
Léo classificou o episódio como “um ataque não apenas pessoal, mas à dignidade de todo o povo negro” e confirmou que já ingressou com uma queixa-crime contra o parlamentar.
“Ele me chamou de ‘negro fedido’, de ‘agambar’, e disse que minha cor tem cheiro. Isso me chocou profundamente. A cor da pele não exala mau cheiro. Se existe mau cheiro, é por doença ou falta de higiene. Isso mostra que ele carrega dentro dele a discriminação”, afirmou Léo, durante a entrevista ao É Notícias.
Segundo o líder comunitário, nunca houve qualquer desavença familiar ou política entre ele e o presidente da Câmara. “Sempre tive respeito pela família dele, inclusive sou amigo do irmão, Bosco, que me ajudou muito na comunidade. Por isso, não entendo o motivo de tanto ódio”, disse.
Léo destacou que o caso não se resume a uma ofensa pessoal, mas configura crime de injúria racial, previsto no artigo 140, parágrafo 3º do Código Penal, além de violações à Lei 7.716/1989 e à Lei 14.532/2023, que aumentou a pena para esse tipo de crime.
“Ele cometeu vários crimes. A pena pode ir de dois a cinco anos de prisão, e por ser servidor público, o tempo pode aumentar em até metade. Isso pode, inclusive, levar à cassação do mandato”, explicou.
Durante a entrevista exclusiva, Léo Mineiro fez um apelo direto à população e aos vereadores do município:
“Eu espero que os eleitores cobrem dos vereadores uma sessão extraordinária, que peçam explicações e que, se cabível — e é cabível —, votem pela cassação. Isso não se faz. Não se discrimina uma pessoa pela raça. Julga-se o ato, não a cor.”
O líder comunitário relatou ainda ter recebido apoio de moradores, brancos e negros, após o episódio ganhar repercussão nas redes sociais.
“Várias pessoas têm me parado nas ruas e no comércio, dizendo que não aceitam o que aconteceu. É assustador ouvir esse tipo de comportamento vindo de um parlamentar que foi eleito para defender o povo”, afirmou.
Ele ressaltou que o episódio o abalou emocionalmente, mas reforçou que não pretende transformar o caso em disputa pessoal.
“Eu não tenho nada contra ele. Nunca tivemos briga, nunca faltamos com respeito. O que aconteceu foi grave e precisa de resposta da Justiça”, completou.
Até o fechamento desta edição, Júnior do Requeijão não se manifestou sobre o caso. Tentativas de contato com o parlamentar, sua assessoria e a irmã Marileide não foram atendidas.
O Ministério Público da Bahia e a Câmara Municipal de Dias D’Ávila também foram procurados pela reportagem para comentar se há algum procedimento formal aberto, mas não responderam até o momento.
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